Há coisas que a boa convivência recomenda evitar: política em velório, sogra em lua de mel e — sobretudo — dois políticos na mesma lanchonete. Não importa se são do mesmo partido, da mesma cidade ou até da mesma família. Quando se sentam frente a frente, o ar pesa, o sorriso aperta e o garçom, coitado, já percebe que aquele pedido de “só uma água com gás” vai acabar em guerra de egos. O primeiro começa elogiando o colega — “Fulano é um grande nome da política local” — e o segundo retribui com aquele sorriso de quem está fazendo contas mentais: “Grande, sim, mas já está na hora de se aposentar”. Em minutos, o tom sobe, o garfo vira microfone e a conversa se transforma num debate eleitoral fora de época. Os garçons passam fingindo não ouvir, os pratos esfriam e até o vinho se arrepende de ter sido aberto. É que político, quando encontra outro, não conversa: disputa território. É como dois galos em terreiro pequeno — cada um cantando mais alto, pra ver quem manda. Por isso, fica o aviso aos anfitriões de plantão: se o jantar é pra ser tranquilo, escolha bem os convidados. Amigos, sim; adversários, nunca. Porque, entre políticos, até o pão da mesa vira palanque.