Há pessoas que parecem ter nascido com uma bússola desregulada, dessas que insistem em apontar sempre para o mesmo norte: você. Onde você está, elas estão por perto — às vezes sorrindo, às vezes só observando, às vezes apenas existindo ali, como uma sombra que não pede licença nem se manca. No começo, você acha até agradável. A companhia constante dá um certo conforto, um ar de importância. Mas, com o tempo, percebe que algumas presenças pesam mais que outras. Não porque sejam ruins, mas porque ocupam espaço demais — espaço de silêncio, de pensamento, de respiração. É curioso como algumas pessoas têm o dom de circundar a vida alheia sem que ninguém as chame. Entram pelos pequenos hábitos, pelo “estava passando por aqui”, pelo “ah, lembrei de você”. E, quando você vê, já não sabe onde termina você e onde começa o rastro insistente delas. O difícil não é se afastar — é se desligar. Porque desligar não depende só das pernas ou das portas; depende da cabeça, do coração e daquele fio invisível que insiste em vibrar quando o nome da pessoa aparece na tela do celular ou quando a voz dela ecoa de algum canto. Há gente que prende a gente não pelo que faz, mas pelo que provoca. E o mais irônico é que, às vezes, elas nem percebem o próprio peso. Vão ficando, grudando e colando, como uma etiqueta mal tirada de uma embalagem. Você tenta puxar devagar, depois tenta arrancar de uma vez — mas sempre sobra um adesivo teimoso, um pedacinho que volta a lembrar: “ainda estou aqui”. O fato é que crescer também significa aprender a abrir janelas, não só portas. Significa deixar entrar o vento, o novo, o vazio saudável que faz a vida respirar. Porque tem gente que está sempre ao seu redor… mas não precisa estar sempre dentro. E desligar, no fim das contas, não é romper — é reorganizar. É colocar cada pessoa na prateleira certa: algumas na cabeceira, outras no corredor, e certas poucas apenas na saída. Sem culpa, sem ruído — só com a clareza de quem, finalmente, voltou a caber dentro de si.