FALTA DE RESPEITO

Dizem que, lá pelos corredores silenciosos do Congresso Nacional, as estátuas de Ruy Barbosa e Ulysses Guimarães já não conseguem sustentar o bronze sem suspirar. O povo, ao passar, olha para cima e sente vergonha alheia em nome delas. E então começa o burburinho: “Tirem essas estátuas daqui. Elas não merecem assistir a isso.” Não é protesto contra o passado — é pudor pelo presente. Porque os velhos gigantes, que tanto falaram de liberdade, Constituição e decência pública, agora servem de plateia involuntária a um espetáculo que eles jamais assinariam. Ficam ali, imóveis, observando decisões que desafiam exatamente aquilo que os ergueu no lugar de honra. E o povo, que ainda acredita em símbolos, pede sua retirada como ato de respeito — não aos parlamentares de hoje, mas aos de ontem. Como quem poupa os mestres de ver o desatino dos discípulos. Como quem fecha a cortina antes que a vergonha respingue no bronze.Talvez um dia elas possam voltar. Mas, por enquanto, dizem que até o mármore prefere não ver.

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