Começaram ontem, e Bragança acordou diferente. Não foi o barulho comum da cidade que anunciou o dia, mas o som antigo dos tambores, como se o chão do nordeste do Pará lembrasse aos pés apressados que ali há uma história que não se apressa. A Marujada não começa quando o primeiro marujo dança. Ela começa antes, na fé guardada em silêncio, na roupa preparada com cuidado, no olhar de quem sabe que tradição não é espetáculo: é compromisso. Em Bragança, São Benedito não é apenas santo; é parente próximo, é presença que atravessa gerações. Enquanto as cores tomam as ruas e os chapéus se alinham como ondas organizadas, a cidade parece suspender o tempo. A Marujada mistura devoção e festa sem pedir licença à modernidade. Ali, dançar é rezar com o corpo, e cada passo carrega a memória de quem já dançou antes, de quem prometeu e voltou para cumprir. Os mais velhos observam com um sorriso que é quase uma bênção. Os mais novos aprendem, mesmo sem perceber, que identidade não se herda pronta — se constrói no ritmo do tambor. Em cada giro, Bragança reafirma que tradição não é passado guardado em museu, é presente vivido na rua. Ontem a festa começou, mas o que realmente se iniciou foi mais um capítulo dessa conversa antiga entre fé, cultura e pertencimento. A Marujada segue, e com ela segue Bragança, lembrando ao Brasil que algumas festas não passam: permanecem. A grande procissão da Marujada acontece no dia 26 próximo.