O que seriam as indústrias de armas se não fossem as guerras? Talvez fábricas de panelas, quem sabe. O aço o mesmo, o fogo o mesmo — só mudaria o destino do metal. Em vez de canhões, frigideiras; em vez de balas, colheres. O lucro talvez menor, mas a consciência mais leve. Mas o mundo, parece, não sabe viver sem barulho de pólvora. Sempre há uma bandeira tremulando, um discurso inflamado, uma ameaça inventada. É o combustível perfeito para quem transforma medo em mercadoria. Onde há paz, há tédio para quem vive do conflito. Afinal, como se sustentaria um negócio que precisa da morte para prosperar? Que depende do ódio para manter empregos e dividendos? A indústria da guerra não fabrica só armas — fabrica razões para usá-las. Produz inimigos sob encomenda, alimenta o medo como quem rega um jardim. E nós, espectadores, assistimos tudo com a mesma distração com que trocamos de canal. Entre uma explosão e outra, alguém ainda acredita que a guerra é inevitável, natural, até necessária. É o velho truque: transformar tragédia em economia. Se não fossem as guerras, talvez as indústrias de armas fabricassem brinquedos. Ou bicicletas. Ou instrumentos musicais. O problema é que a paz dá pouco lucro. E enquanto houver quem compre o medo, sempre haverá quem venda munição. No fundo, a paz é um produto sem mercado. E as armas, infelizmente, continuam sendo o investimento mais seguro do planeta.