No começo, ele era só um político “esperto”. Daquele tipo que piscava um olho para cada problema e dava um sorriso para cada solução improvisada. Achava que, com meia dúzia de atalhos e três frases bem ensaiadas, governaria até o fim dos tempos. Afinal, “quem sabe das manhas, não precisa de estrada”. Mas a esperteza — essa velha amiga traiçoeira — cobra caro. No início, ela só pedia pequenos favores: uma manobra aqui, um desvio ali, um gesto de conveniência chegando mansinho. Ele, contente, obedecia. O sucesso parecia garantido, a popularidade inflava como balões de festa infantil. Todos achavam graça, inclusive ele. Até que um dia, o que era só jogo começou a virar vício. Ele já não pisava no chão; flutuava, confiante demais no próprio talento de “dobrar o mundo”. Só que o mundo, ao contrário do que ele imaginava, não dobra: ele observa, acumula e devolve. E devolveu. De repente, a esperteza virou peso. Cada pequena manobra virou pedra. Cada atalho virou buraco. E o homem que se achava malandro demais começou a escorregar dentro do próprio castelo de truques. A queda, quando chegou, não foi lenta nem discreta: foi vertiginosa, barulhenta, quase cinematográfica. O tipo de queda que ninguém deseja, mas muitos aguardam. O povo, que ele subestimara, viu tudo. E aprendeu. E comentou. E riu — porque a esperteza, quando exagera, faz o esperto virar piada antes de virar história. No fim, ele descobriu a verdade que nenhum manual de campanha ensina: o excesso de esperteza é como subir uma escada rolante ao contrário. Uma hora cansa. Outra hora falha. E sempre chega o momento em que a queda é inevitável. E assim caiu o político que acreditava ser mais rápido que a própria sombra — sem perceber que, no fundo, era apenas mais um tentando trapacear a gravidade.