BAILANDO NO PODER

Há quem diga que a política é uma dança. Mas, se for, é daquelas coreografias improvisadas, onde ninguém sabe muito bem o passo — só quem manda na música. E, quando mudam os donos do som, ah… os aliados do poder viram verdadeiros artistas do improviso. Ontem, defendiam com unhas, dentes e até cotovelos as virtudes do líder de então. Juravam que era o único capaz de conduzir o barco, mesmo que o barco estivesse entrando água pelas laterais. Hoje, com o novo comandante no leme, acordam renovados, lavados, purificados. O que antes era ruim agora é ótimo; o que era desastroso agora é “um mal necessário”; e quem era quase um inimigo da pátria se torna, como num passe de mágica, um sábio incompreendido que só precisava de uma chance. Os aliados do poder têm uma habilidade rara: eles sempre estiveram do lado certo — mesmo quando não estavam. Dizem que mudaram porque “o povo pediu”, “a conjuntura exigiu”, “o novo tempo chegou”. No fundo, é só instinto de sobrevivência. É a velha bússola da conveniência apontando sempre para a direção onde brilham os refletores, onde há uma cadeira quente e um microfone aberto. Quando os donos do poder mudam, eles mudam junto. Não por convicção, mas por vocação. São como bandeiras ao vento: não escolhem a direção; apenas seguem a corrente mais forte. E se alguém pergunta por que trocaram de lado tão rápido, respondem com um sorriso treinado: “Eu nunca fui contra, só não tinha sido compreendido.” E assim segue a política: os mesmos rostos, as mesmas frases, apenas com novos crachás. O poder troca de mãos, mas seus aliados — esses não mudam de verdade. Só trocam de dono.

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