Dizem que o parlamento é o espelho da sociedade. Se for verdade, talvez o Brasil precise urgentemente trocar de vidro — ou aceitar que a imagem refletida nunca foi exatamente a que gostaríamos de ver. Porque ali, no plenário, o país aparece inteiro: o barulho, as certezas frágeis, os debates que começam nobres e terminam em torcidas organizadas. A pressa em apontar culpados e a lentidão em assumir responsabilidades. A convicção fácil, a memória curta, o improviso como método. O jeitinho que resolve, o orgulho que atrapalha, o interesse que sempre acha um modo de se nomear “bem comum”. Mas também há no reflexo aquilo que a gente teima em esquecer: a diversidade barulhenta, as histórias que não se repetem, a coragem de alguns poucos, a teimosia de outros tantos, e até uma esperança miúda, quase invisível, que insiste em sobreviver entre discursos inflamados e microfones desligados. Se o parlamento representa o Brasil, então a realidade da sociedade brasileira é essa mistura contraditória: gente que fala sem ouvir, gente que luta sem desistir, gente que se perde em paixões e, ainda assim, quer encontrar um caminho que faça algum sentido. No fundo, talvez o problema não seja o espelho. É que olhar para si mesmo nunca foi tarefa fácil — especialmente quando a verdade aparece sem filtro, sem edição e sem legenda explicativa. E o Brasil, coitado, ainda está aprendendo a se reconhecer.