Dizem por aí que, se o STF resolvesse montar escritório no Congresso, ninguém perceberia a mudança. As togas caminhariam pelos corredores como quem atravessa seu próprio quintal, enquanto os ternos dos parlamentares se ajeitariam nas cadeiras altas como se sempre tivessem pertencido ali. No fundo, a confusão não estaria na troca de endereço, mas na troca de papéis — porque, de vez em quando, parece mesmo que um julga como quem legisla, e o outro legisla como quem quer julgar. O povo, lá de fora, olha o prédio espelhado e pergunta: “Mas afinal, onde termina um e começa o outro?”. E a resposta, quase sempre, se esconde atrás de portas pesadas, de decisões que chegam tarde e de discursos que chegam cedo demais. E assim seguimos, imaginando esse país onde um STF cabe dentro do Congresso, ou um Congresso cabe dentro do STF — talvez porque ambos já vivem apertados dentro da paciência do brasileiro.