A súbita demonstração de honestidade de certos políticos brasileiros sempre causa espécie — e, pior, uma preocupação silenciosa. Não porque o país tenha se desacostumado à virtude, mas porque, quando ela aparece em excesso, tão ensaiada, tão cintilante, costuma significar que algo foi cuidadosamente colocado fora do foco. É como aquele teatro em que o ator grita sua verdade para que ninguém perceba o truque acontecendo no fundo do palco. No Brasil, quando um político faz questão de repetir que é honesto, a plateia, experiente, ajeita-se na cadeira e pensa: “Se precisou dizer tanto, é porque a honestidade anda com pouca vontade de se mostrar sozinha.”