No plenário, o mandato foi cassado; no discurso, parece que jamais. A vereadora de Bragança, no nordeste do Pará,Tati Rodrigues (PSDB) saiu pela porta dos fundos da Câmara, mas entrou pela principal do Judiciário, empunhando a tentativa de um mandado de segurança como quem carrega um salvo-conduto moral. Não era apenas a possibilidade de voltar ao cargo — era, sobretudo, a chance de permanecer em cena. Cassada, mas não silenciada, ela descobriu que a política brasileira não termina com a perda do mandato. Pelo contrário: às vezes, começa ali. Entre uma petição e outra, entrevistas surgiram, discursos ganharam tom épico e a narrativa passou a ser de injustiça histórica, perseguição pessoal e coragem solitária. A cassação virou troféu; o processo, palanque. Enquanto o Judiciário decide se houve excesso ou rigor, a vereadora decide algo maior: o futuro. Já não fala apenas do passado recente, mas do amanhã distante. 2028 surge no horizonte como promessa e estratégia. A ação judicial, que deveria ser técnica e silenciosa, vira marketing político. A defesa jurídica se confunde com campanha antecipada. É curioso como a política tem dessas ironias. O cargo perdido vira argumento de liderança; a punição, certificado de autenticidade. Cassada, ela se apresenta como vítima do sistema — sistema esse que, ironicamente, tenta convencer a reocupar. E assim, entre liminares possíveis e sentenças incertas, a hoje ‘ex-vereadora’ se lança candidata a prefeita antes mesmo de saber se voltará a ser vereadora. No fim das contas, talvez o mandado de segurança não seja apenas para recuperar um mandato, mas para manter viva a principal função de todo político experiente: nunca sair do palco. Mesmo cassado, o poder de fala permanece — e, em política, quem fala nunca está totalmente fora do jogo.